terça-feira, 29 de abril de 2014

Conhecimento tradicional atravessa gerações de mulheres na Amazônia


"No mercado Ver-o-Peso, em Belém , turistas de todo lugar chegam atraídos pelas cores, perfumes e sabores das frutas, peixes, pimentas e ervas que vêm da Amazônia. Figuras populares, as vendedoras de ervas conquistaram seu espaço no mercado e na cultura paraense comercializando os segredos da floresta, sob forma de pomadas, banhos, “garrafadas” e atrativos que garantem o amor e a boa sorte.O conhecimento tradicional que tem como laboratório os quintais das casas é marcante entre as populações indígenas, caboclas e quilombolas da região, e tem nas mulheres as figuras centrais na permanência desse legado.

“O trabalho com as ervas é considerado uma atividade essencialmente, em sua maioria feminina até porque isso se dá no espaço doméstico, nos quintais agroflorestais, ambiente que elas dominam e onde fazem o cultivo e a coleta. Na Amazônia, assim como em outras culturas, historicamente, às mulheres não é delegada a pesca ou caça; a elas cabe a função coletora”, pontua a professora Denise Cardoso, do programa de pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará (UFPA) e uma das coordenadoras do “NósMulheres”, grupo de pesquisa que se dedica a estudos de gênero.

"Muitas clientes procuram as erveiras porque buscam ser ouvidas, buscam a empatia, sabem que quem as ouve é capaz de se colocar no lugar delas e assim ajudá-las a solucionar um problema, através dos banhos, das poções"
— Denise Cardoso, cientista social

De acordo com a pesquisadora, embora os homens também exerçam o trabalho, seja como erveiros ou benzedores, as mulheres acabam agregando um diferencial em suas vendas: a sensibilidade.
Tradição que se aprende em casa 
Aos 27 anos, Simone Souza é uma das mais jovens vendedoras de ervas do mercado do Ver-o-Peso. A barraca estampa o nome da mãe, Sueli, com quem aprendeu os nomes de cada uma ervas, assim como os seus usos.

“Desde mocinha me interessei pelo trabalho da minha mãe, via como ela fazia as misturas, o que usava, e tudo a gente vai aprendendo de boca, assim como ela aprendeu com a minha vó, que já entendia e mexia com as ervas quando ainda morava no interior. Às vezes eu vinha acompanhar minha mãe no Ver-o-Peso, porque também estudava, mas há quatro anos estou exclusivamente atendendo a freguesia”, conta.

Além da barraca, Simone também herdou da mãe a clientela, que garante confiar nos conhecimentos da erveira que convida o público para o seu ponto com um sorriso tão farto quanto os itens à venda no pequeno espaço.
“Cheguei aqui por indicação de uma tia rezadeira que tenho, e conheci o trabalho da Dona Sueli, que só me trouxe benefícios com os mais variados problemas que já tive. Até que ela ‘passou o bastão’ para a Simone, que tem a mesma competência e muita sabedoria sobre esse mundo dos chás, das raízes, das coisas da terra”, relata a carioca Luciana Miranda, de 36 anos, que há 13 anos reside no Pará."
Fonte: G1 - Globo


Defumação com guiné

Guiné (tipi). Depois que plantei um pequeno galho colhido no pé do morro do Corcovado com uma senhora erveira, ele não parou de se espalhar. Meu vaso de plantas está repleto de folhas verdes, e seus delicados galhinhos cheios de pequenas flores. Plantei-o com a intenção de utilizá-lo em forma de banho, em defumações e fazendo rezos com seus galhos e folhas. 

É uma planta originária da floresta amazônica, ligada a proteção e a limpeza energética, muito utilizada pelas religiões afro-brasileiras. 

Na forma de defumação é possível prepará-la, pendurando seus galhos de cabeça para baixo até que sequem. Após isso, enrole-os com barbante, acendendo-o, tal como se faz com a sálvia, nas culturas nativas norte-americanas. 

domingo, 27 de abril de 2014

Perfumes naturais

Se você gostou do post "Óleo infundido e bálsamos de ervas" talvez se interesse tanto quanto eu por perfumes naturais. Eu ainda não experimentei confeccionar um, mas depois de ter encontrado esta receita, estou pensando em fazer alguns vidrinhos.

 Como ponto de referência inicial, vou usar como base a aromaterapia, associada a astrologia lunar. Como resultado, terei não somente aromas, mas também verdadeiros perfumes curativos. Cada qual para um propósito específico.

Caso você esteja tão motivada quanto eu, aqui vai a receita, gostaria muito que compartilhasse comigo os seus resultados.

  • 2 colheres de sopa de óleo portador, tais como jojoba, amêndoa doce ou óleo de semente de uva
  • 6 colheres de sopa de vodka de boa qualidade 
  • 2 1/2 colheres de sopa de água destilada
  • 1 coador de café
  • 1 funil
  • óleos essenciais (você vai precisar de óleos separados para base, notas médias e superiores, totalizando cerca de 30 gotas)
  • Dois frascos de vidro de cor escura, um para a cura, um para armazenar.

1. Comece com a limpeza dos frascos, com água quente e sabão. Deixe secar completamente.
2. Coloque o óleo portador em um dos frascos.
3. Em seguida, adicione os óleos essenciais.
5. Deixe a garrafa descansar de 48 horas a 6 semanas. O cheiro vai mudar ao longo do tempo, tornando-se mais forte em 6 semanas.
6. Verifique regularmente, e uma vez que você esteja feliz com ele, adicione 2 colheres de sopa de água para a mistura.
7. Dê a garrafa uma boa sacudida por um minuto. Coloque um filtro de café para um funil e transfira o conteúdo do frasco de cura para o outro frasco, que se tornará a garrafa de armazenamento. Identifique sua mistura.
8. Seu perfume está pronto para usar. 
9. Mantênha-o fora do calor direto ou da luz solar, de preferência num frasco escuro.

Mãos que curam

O ramo, símbolo da cura

"Na caatinga brasileira, as rezadeiras são líderes muito respeitadas nas comunidades onde vivem"


por Maria Zita Almeida

"Rezadeiras, curandeiras, benzedeiras. Os nomes variam, mas a importância é a mesma para as pessoas que as procuram em busca de uma oração para a cura de algum mal. Em comum, além da humildade e do olhar doce, as rezadeiras têm alguns modos de orar, benzendo os pacientes com as mãos ou com plantas, em uma linguagem própria, uma espécie de cochicho ininteligível que mantêm com Deus ou com os(as) santos(as) que são devotas.

As rezadeiras são líderes naturais nas comunidades onde vivem. São respeitadas, principalmente pelas mães que, na maioria das vezes, optam por suas rezas para curar os filhos das doenças. Na Paraíba, desde a época dos cangaceiros e beatos era comum recorrer à flora da caatinga para fazer lambedores, purgantes, emplastros, pomadas e garrafadas, acompanhadas de gestos e orações, rezas, benditos, novenas, ofícios, terços, rosários, entre outros recursos de cunho religioso.


Nessa época, os rituais das rezadeiras eram muito próximos do que os padres entendiam como doutrina espírita. Por isso, as benzedeiras foram, por muito tempo, isoladas do convívio com a Igreja Católica devido a interpretação de fenômenos de mediunidade. Com o passar do tempo, foram adquirindo espaço na sociedade e hoje não há município ou comunidade paraibana que não tenha uma rezadeira.


Essas mulheres fazem questão de declarar que não utilizam seus dons para realização de "pedidos malignos". No máximo, elas pressentem os "enguiços", que seriam um mal desejado a alguém, mais conhecido por todos como "mau olhado".


Sempre lembradas por pessoas de classes sociais diversificadas, que em pleno século XXI, apesar de todo avanço da medicina, ainda acreditam primeiramente nesses "anjos de Deus", as rezadeiras não acreditam que o ofício acabe um dia. A estudante universitária Sayonara Kelly Pontes, de 19 anos, revela que recorre a uma rezadeira sempre que acredita estar com mau olhado, apesar de ter plano de saúde.


"Enquanto a medicina e a alopatia curam as doenças do corpo, as rezas curam as doenças da alma", diz. "Como curar uma espinhela caída, um mau olhado, com paracetamol e ácidos acetilsalicílicos? Qual o médico que, em seu consultório, teria uma medicação para estes males?", interroga Sayonara.


No município de Boa Vista, no Cariri paraibano, ainda é possível encontrar mulheres conhecidas por livrar muita gente de males que às vezes a medicina desconhece. O que mais elas rezam é "espinhela caída". Segundo as rezadeiras, trata-se de uma dor provocada pelo deslocamento de uma cartilagem localizada na "boca do estômago" (saída do esôfago para o estômago).


Outros males mais comuns curados pelas rezadeiras são o mau olhado, cobreiro, íngua, quebranto e erisipela. Em alguns casos, o "paciente" tem de voltar mais vezes para que a reza fique completa. Os chás e banhos de ervas medicinais também são receitados.


Maria Rocha, Antônia, Nair, Chiquinha, Baíca, Áurea Rita e Lilita (nenhuma declara a idade, mas a maioria diz ser "setentona") são algumas das rezadeiras mais procuradas de Boa Vista. Apesar de a atividade ser tradicionalmente feminina, "Seu Ageu" tem uma clientela grande e se destaca entre "as meninas" da cidade. A atividade apareceu na vida de todas por acaso. Dona Chiquinha disse que aos 12 anos passou embaixo de uma ponte e viu uns folhetos com rezas. Aprendeu e "hoje quem chega à minha casa não sai sem uma reza", garante.


Dona Rita disse que aprendeu a usar o ramo (galho retirado de uma árvore para a reza) quando um dia estava na porta de sua casa e uma mulher com um bebê de nove meses apareceu. A mulher pediu para que Rita rezasse o bebê, que não curava de um sarampo. "Mesmo dizendo que não era rezadeira, ela insistiu. Então, eu peguei o ramo e apenas conversei com Deus. O ramo logo murchou e eu disse que era olhado. Dois dias depois, o bebê estava melhor, e foi então que as pessoas começaram a me procurar", relembra.


A senhora de fala mansa e andar compassado adora uma boa conversa e isso fez com que ela fosse uma das escolhidas para protagonizar o documentário O Ramo do jornalista Flávio Alex Farias. Preocupado com o desaparecimento das rezadeiras do Cariri, Farias resolveu produzir um documentário que mostra, além das rezas, toda uma cultura e religiosidade que permeia a vida do habitante do semi-árido. "Não se pode descartar que, devido ao êxodo rural, muitas pessoas que tem esses dons estão hoje habitando cidades muitas vezes distantes do município de origem. O documentário vai servir para que familiares e estudantes possam continuar a ver as rezadeiras", explicou.


A preocupação de Farias é compartilhada pelas rezadeiras boavistenses. "Infelizmente, no mundo de hoje existe muita descrença, muita falta de união entre a humanidade, o povo está perdendo a fé na reza", diz Rita. Mesmo assim, emocionada ela declara: "Mas, para aqueles que acreditam no poder da cura através da oração, em algum canto, em todo canto deste Brasil, mesmo passando as gerações, haverá sempre alguém que vai rezar pelo seu bem".


E Dona Rita tem razão. Está nas nossas raízes, no nosso sangue, na nossa cultura: na dificuldade, sempre recorremos às orações. E se nessa hora não tivermos condições e tranquilidade para orar, sempre haverá uma rezadeira que vai faze o elo de ligação entre nós e Deus."



Abuela Luna




"ABUELA LUNA enseñame como ver
en el brillo de las estrellas
el rostro de mis ancestros
para entrar en los mundos
que estan lejos y cerca de mi.

Muestrame como una bienvenida
la vision que aparece ante mi
viendo los detalles de la verdad
en la revelación de cada misterio.

Camina junto a mi en el sueño del tiempo
y permiteme mostrar esta vision
a las cuatro razas

Guardiana de todas las dimensiones
sigo el camino de la mujer medicina
para comprender la vision de la tierra en mi
viendo la verdad dentro de mi HOY"

JAMIE SAMS

sábado, 26 de abril de 2014

Óleo infundido e Bálsamo de ervas



Preparar óleos infundidos e bálsamos de ervas e flores não é algo tão difícil quanto parece. Com eles podemos tratar uma variedade de problemas, o que o torna um item indispensável para a nossa "farmácia"caseira.

No ayurveda, alguns bálsamos são preparados com Ghee (manteiga líquida purificada), mas este outro modo, também resulta num medicamento natural, sem presença de parabenos e outras substâncias químicas prejudiciais a pele e a saúde.


Óleo infundido


Para começar, vamos escolher as ervas ou flores que tenham propriedades terapêuticas interessantes para o nosso composto. Caso seja da sua preferência, é possível acrescentar algum óleo essencial para dar perfume ou enriquecer as propriedades do óleo/bálsamo.



Esse método a baixo, utiliza o sol como agente ativador, tornando dispensável o uso do fogão. 

Coloque um ou dois punhados de ervas ou flores secas em um frasco bem limpo e seco, cubra-os com um óleo vegetal de sua preferência (no ayurveda, é preciso saber escolher o óleo de acordo com o dosha, para auxiliar no processo de cura). Sele o frasco e mantenha-o num local bem ensolarado por duas semanas. De vez em quando, abra o frasco e amasse as folhas/flores, feche novamente. Após este tempo, coe o óleo com uma gaze, esfremendo bem as ervas para que liberem suas propriedades.

Bálsamo de ervas

Caso você prefira transformar este óleo em um bálsamo, você precisa misturá-lo com a cera de abelha, para torná-lo mais sólido.

Use duas colheres de sopa de cera para 1/4 de xícara de óleo. É possível neste momento, também adicionar alguma manteiga nutritiva ou óleo essencial. 

Derreta em banho maria a cera com a manteiga de sua escolha (algumas muito usadas são a de cacau, karité e cupuaçu). Tire do fogo, misture a óleo infundido e o essencial. 

Coloque na geladeira por 30 minutos, e após isso, mantenha-o em temperatura ambiente. 


Experimente:

- Flores de calêndula para cicatrização;
- Folhas secas de arnica para contulsões e dores musculares;


Defumador caseiro

Meu tio-avô me ensinou esse defumador, para fazer a limpeza da minha casa. Muito simples e muito potente.

Descasque o alho e separe as cascas. Junte numa tigela de barro ou incensário de defumação, as cascas com um pouco de pó de café. Se preferir acrescente um pouco de fumo de rolo picado. Defume de dentro para fora (para a porta de saída). 

Antes de defumar, você pode colocar um copo de água atrás da porta. Quando acabar jogue a água fora em água corrente.

Os dentes de alho também podem ser usados como proteção e limpeza da casa. Colocando no canto da sala, 3 dentes de alho com 3 pedaços de carvão dentro de um copo de água. Troque de tempos em tempos, sempre quando a água ficar turva. 

Cigarro de tauari espanta mau olhado, diz curandeira na Amazônia

"O cigarro do tauari sempre foi usado pelos xamãs"

Dona Melica ensina banho contra mau olhado. Foto: Amazon Sat/Reprodução
Dona Melica ensina banho contra mau olhado. Foto: Amazon Sat/Reprodução
"MANAUS – Você conhece o cigarro de tauari? Quase uma raridade no Amazonas,  é usado pela curandeira Dona Melica, de 102 anos de idade, para trabalhos espirituais.
Moradora da cidade de Parintins, no Amazonas, Melica assinala que quando um sujeito fumar o cigarro de tauari deve ter a intenção de passar energia positiva ao outro. “O efeito da fumaça que a gente joga na pessoa depende muito do estado espiritual dela. Se tiver alguma coisa pequena no encalço, ele sente um alívio. Se a coisa for grande, o sentimento é de choque”, explicou.
A curandeira faz um alerta: ” Nem todas as pessoas que se dizem amigas na verdade te querem bem. Há gente fingindo dar alegria e carinho, mas toda esta felicidade é momentânea”.
Para pessoas que têm o olho gordo (invejosos) por perto, Dona Melica indica uma baforada do cigarro de tauari na porta de casa. Deste modo, as urucas (mau olhado e desejos maldosos contra o outro) são espantadas pelos bons espíritos.
Para arrumar marido ou namorada, Dona Melica sabe como, mas não conta o segredo. “Se falar qual planta ou folha usar, a pessoa pode ter o efeito contrário. O melhor é vir e trazer sua própria flor”, assinalou.
A curandeira explica a composição do cigarro. Feito da madeira do tauri, há também canauaru (sapo amazônico de pequeno porte, mas produtor de um breu muito poderoso), tabaco e cumari – uma espécie de pimenta.
A única dica de Dona Melica é na hora do banho. Quem precisa retirar o mau olhado, pode fazer um receita caseira. É só use na água cinco folhas de peão roxo que toda a inveja vai pelo ralo."








Cigarro sempre foi usado em rituais
O cigarro do tauari sempre foi usado pelos xamãs (índios que utilizam a magia para o bem) e pelos umbandistas. Como parte do sincretismo religioso, é usado por vários povos indígenas, em toda a América do Sul."




Fonte: http://www.portalamazonia.com.br/editoria/amazonia/cigarro-de-tauari-espanta-mau-olhado-diz-curandeira-da-amazonia/

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Esfoliante de canela



Experimentei esta receita há algumas semanas e super recomendo. Estou usando como esfoliante para rosto, senti que uniformizou mais a pele, deixando-a bem macia. Usei óleos vegetais, pois não sou adepta de óleos minerais (no ayurveda, óleos minerais são considerados tóxicos para a pele, pois são derivados de petróleo).



Eu substitui a cana de açucar por açucar demerara. Gostei muito da textura, do aroma e da cor. Uma delícia.




- 1/2 xícara de açucar branco

- 1/2 xícara de cana de açucar
- 1/4 cícara de óleo (azeite, amêndoa ou coco)
- 1/2 colher de chá de óleo essencial de baunilha
- 2/3 gotas de óleo essencial de canela
- 1 pitada de canela

Misturar todos os açúcares e óleos essenciais. Acrescentar a canela. Adicionar o óleo aos poucos até chegar a uma boa textura (caso haja necessidade acrescentar mais óleo).


quarta-feira, 23 de abril de 2014

"As brujas no se quejan"

"Las ancianas no se quejan 
Las ancianas son atrevidas 
Las ancianas tienen mano para las plantas
Las ancianas confían en los presentimientos 
Las ancianas meditan a su manera
Las ancianas defienden con fiereza lo que más les importa 
Las ancianas deciden su camino con el corazón 
Las ancianas dicen la verdad con compasión 
Las ancianas escuchan su cuerpo 
Las ancianas improvisan
Las ancianas no imploran
Las ancianas se ríen juntas
Las ancianas saborean lo positivo de la vida"


Jean Shinoda Bolen
"As brujas no se quejan"

Caderno do útero

"As mulheres hoje estão descobrindo que a espiritualidade é autêntica quando é intrinsicamente subjetiva, quando é trazida para fora, penadamente do útero da sua própria experiência" 

(Kolbenschlag, p.160)



Uma prática interessante da espiritualidade da Deusa é a criação de um caderno do útero onde escrevemos todas as nossas vivências, reflexões e estudos ligados ao nosso ciclo. 

Em meus cadernos, também costumo registrar meus sonhos mais significativos, sempre tomando o cuidado de observar a fase lunar em que os tive.

Dentro dele, guardo também meus calendários lunares, inspirados no livro "Lua vermelha",da Miranda Gray . Além de estudos, trechos de leituras de livros e meditações ligadas ao sagrado feminino. 

Sempre que posso, nos meus dias de inspiração, aproveito para desenhar, pintar ou fazer alguma colagem. Para mim, estes momentos se tornam sagrados, pois são parte da minha conexão direta com meus fluxos e com a energia imanente da Deusa. 

Hoje ao folheá-los, senti a vontade de postar alguns dos trechos interessantes de livros, compilados durante estes anos de pesquisa. Neste blog pretendo publicar uma parte deste material, pois gosto bastante da idéia de compartilhar o aprendizado para que outras mulheres possam se beneficiar com estas práticas.

Segue a minha primeira seleção de textos e suas referências, caso queiram continuar a leitura.


"O que temos perdido nesta cultura é um sentido de reverência. Creio que quando  reivindicarmos nosso sentido de reverência em relação a menstruação, ao sangue, aos ciclos da lua, a nossa fertilidade, às incríveis mudanças que ocorrem em nossos corpos, seremos capazes de reinvindicar também o nosso sentido de reverência ao universo, porque pra mim o ciclo menstrual é um microcoscmo do universo. Por isso, em vez do nosso amante ser posto de lado pela menstruação, ele deve se curvar perante ela a partir de cada célula, com um profundo sentimento.

Uma maneira de recriarmos esse sentido de reverência no mundo natural é realizando rituais, seja sozinhas ou coletivamente. Creio que é por não termos rituais de puberdade que por algum modo permanecemos adolescentes. Deve haver uma razão para as culturas possuírem ritos de puberdade. Encaro os rituais e os ciclos como oportunidades de se deixar as coisas seguirem seu caminho, de se renovarem e purificarem. Todos os rituais estão relacionados a deixar ir o velho e abrir espaço para o novo, porque vivemos em um planeta de ciclos. Por isso, a menstruação é tão importante quando reinvidicamos o ciclo natural da vida neste planeta ."

(do livro "Seu sangue é ouro" de  Lara Owen) 





O Útero



"Embora hajam diferenças distintas entre a energia dos ovários e a do útero, muitas mulheres têm problemas com ambos, simultaneamente. Por exemplo, muitas mulheres cujos ovários são afetados por endometriose também apresentam fibromomas no útero. Portanto, é de toda a utilidade discutir, na sua generalidade, a natureza global dos padrões de energia emocionais e psicológicos, que tendem a gerar saúde e doenças nos órgãos pélvicos.


Os órgãos pélvicos internos (ovários, trompas e útero) estão relacionados com aspectos do segundo chakra. A sua energia depende de um instinto feminino capaz, competente ou potente para gerar abundância e estabilidade emocional e financeira, e para expressar a criatividade na sua plenitude. A mulher deve ser capaz de se sentir bem consigo mesma e com as suas relações com os outros no decorrer da sua vida. Por outro lado, as relações que ela acha cansativas e limitadoras podem afetar adversamente os seus órgãos pélvicos internos. Assim, se uma mulher permanece numa relação não saudável porque pensa não poder bastar-se a si mesma, econômica e emocionalmente, os seus órgãos internos podem correr um sério risco de contraírem doença.


A doença só surge quando uma mulher se sente frustrada nas suas tentativas de efetuar mudanças as que precisa fazer na sua vida. A probabilidade e a gravidade da doença dependem do quão eficientemente funcionam as diversas áreas da sua vida. Um casamento e uma vida familiar que a apoiem, por exemplo, podem compensar parcialmente um trabalho cansativo. Um padrão psicológico clássico associado a problemas físicos na pelve é o de uma mulher que quer libertar-se de comportamentos limitativos nas suas relações (com o marido ou no trabalho, por exemplo) mas não consegue confrontar-se com os seus medos relativamente à independência que essas alterações lhe trariam. Embora ela possa aperceber-se de que outros estão limitando a sua capacidade de se libertar, na realidade, o seu maior conflito desencadeia-se dentro de si mesma em torno dos seus próprios medos.


Um outro aspecto que afeta os órgãos pélvicos é a competição entre as várias necessidades. Quando as suas necessidades mais íntimas de companheirismo e apoio emocional entram em competição com as suas outras necessidades exteriores, autonomia e aprovação familiar, esta situação pode interferir com os órgãos pélvicos, os ovários e o útero. A nossa cultura ensina-nos que não podemos estar ao mesmo tempo emocionalmente preenchidas e ser bem sucedidas financeiramente e que as nossas necessidades relativamente a ambos os aspectos são mutuamente exclusivos; que, como mulheres, não podemos ter tudo. As mulheres não são geralmente ensinadas a ser competentes nas áreas financeira e econômica porque o sistema patriarcal assenta na própria dependência feminina. Uma vez que ter dinheiro e status nos protege e nos faz sentir seguras, foi-nos ensinado que, para adquirir segurança temos que casar, e aos homens que devem providenciar para que não falte dinheiro nem status às suas esposas. O sucesso, no sistema aditivo, permite-nos controlar os outros. Estas crenças e o comportamento determinante que geram são a base para o aparecimento dos problemas pélvicos.


O útero está energeticamente relacionado com o mais íntimo sentido de independência de uma mulher e com o seu mundo interior. Simboliza os seus sonhos e as personagens que gostaria de gerar. O seu estado de saúde reflete a sua realidade emocional e a sua crença em si mesma ao nível mais profundo. A saúde do útero está em risco se uma mulher não acreditar em si mesma, ou se for excessivamente autocrítica.


A energia uterina é mais lenta que a energia ovárica. O tempo de gestação biológica do feto é de nove meses lunares, enquanto que o tempo de gestação de um ovo é de apenas um mês lunar. Pensa-se no útero como sendo a terra, quer simbolicamente, quer biologicamente, na qual as sementes produtivas dos ovários crescem a seu tempo.


A energia ovárica é mais dinâmica e de alteração mais rápida que a do útero. Nos anos reprodutivos, os ovários saudáveis libertam mensalmente novas sementes de uma forma dinâmica. Quando esta energia ovárica dinâmica precisa da nossa atenção, os ovários são capazes de mudar muito rapidamente. Um quisto ovárico pode desenvolver-se numa questão de dias, sob determinadas circunstâncias.


A saúde ovárica está diretamente relacionada com as relações da mulher com as pessoas e coisas exteriores a si mesma. Os ovários estão em risco quando as mulheres se sentem controladas ou criticadas pelos outros, ou quando elas, por seu turno, criticam e controlam os outros. " 



Fonte:

"Corpo de Mulher, Sabedoria de Mulher" de Christiane Northrup







Balanceamento das energias dos ovários



"As artérias e veias dos ovários podem ter se tornado entrelaçadas ou aderidas. Existem frequentemente vários pequenos nós e bloqueios próximos aos ovários. Elas devem ser removidas. Isso pode causa infertilidade, cólicas e menopausa precoce. A massagem auxilia na circulação por dissolver a matéria congestionada (...)"





"Coloque as pontas dos dedos na direção dos ovários. Gentilmente presione para baixo e massageie. Verifique a rigidez no lado esquerdo e direito e a sensibilidade do calor e dos ventos."


"Técnica  de massagem nos ovários

Faça que o paciente coloque os joelhos para cima. Procure pelos ovários com a almofada das mãos e os dedos num movimento de ondulação para frente e para trás. Se você estiver trabalhando com o lado direito da almofada, massageie o ovário direito, quando a mão escorrega para dentro, dos dedos massageiam o ovário esquerdo. Faça isso por 5 minutos.

Muitas condições se resolvem por elas mesmas. Expurre e bombeie. Faça um deslocamento e um rolamento para eles se tornarem saudáveis. Isso é muito confortável e fará com que a pessoa sinta confiança.

Deve se praticar frequentemente pois a condição anterior tende a retornar. Com o tempo eles estarão acostumados, cmas como estão condicionasos tendem a querer voltar a um estado anterior."

Fonte: 
"Chi Nei Tsang. Massagem para orgãos internos com manipulação do chi". Mantak Chia

terça-feira, 22 de abril de 2014

Os vasos-úteros

Me fascina o conteúdo simbólico dos vasos. Entre tantas culturas antigas, ele representou a expressão criadora do útero. Sua capacidade de armazenar os alimentos, de conter a água, suporte indispensável para a manutenção das necessidades mais básicas dos seres humanos. 

Sua sabedoria não está apenas no seu uso utilitário, mas também em sua confecção. Nas mãos que o moldaram, na argila que o constitiu, sua própria mudança de estado, de barro bruto à cerâmica resistente.

Na história da arte, muitos registros foram deixados em sua superfície. Memórias perpetuadas por séculos, resistêntes ao tempo, desenterradas pela arqueologia, reinterpretadas pela modernidade.

Eram as mulheres as grandes fazedoras desta arte, passada entre gerações. Mulheres sentadas entre outras, contando histórias do cotidiano, pintando a história do seu povo e de sua cultura.

Constantemente usado em cerimônias, seu conteúdo representava a oferênda sagrada, muitas vezes recebendo misturas pelo processo alquímico da transformação, contavam com o tempo de maturação, fermentação, tal como um útero que gesta. 

No livro "A grande Mãe", o psicólogo junguiano Erich Neumann, resgata alguns destes simbolismos conectivos entre os vasos e a energia feminina.

"O vaso de argila, e mais tarde o vaso em geral, é um atributo característico e muito antigo da mulher, o qual, neste caso, a substitui e, além disso, a complementa."

"Confeccionar vasilhas é tanto uma parte da atividade criativa do feminino, quanto fazer uma criança, isto é, o ser humano que - assim como o vaso - tantas vezes foi moldado a partir da terra."

“O vaso da transformação só pode ser efetuado pela mulher, porque ela própria, em seu corpo que

 Corresponde ao da Grande Deusa, é o caldeirão da encarnação, nascimento e renascimento.
 E é por isso que o caldeirão mágico está sempre nas mãos de uma figura humana feminina, a sacerdotisa e a Bruxa.”


Dentre as muitas histórias e lendas a ele relacionado, gosto muito de uma em especial, contada entre alguns povos indígenas brasileiros, relatado pela antropóloga brasileira Betty Mindlin, no livro "Moqueca de Maridos". A história revela um interessante ensinamento, sobre o papel do vaso/vasilhame na perpetuação dos saberes entre as gerações de mulheres:

cerâmica marajoara

"Nesse Tempo, as mulheres ainda não tinham potes para cozinhar. Uma 
moça casada lamentava-se por não ter onde cozinhar a chicha. A mãe ficou com pena dela, prometeu dar um jeito: - Minha filha, não quero ver você triste por faltarem potes. Vou virar barro para você poder fazer um pote. 
Você me emborca de cabeça para baixo. Minha xoxota vai ser o gargalo do pote. Você me lava bem por dentro e depois me põe no fogo para cozinhar a chicha. Quando a água secar, filhinha, eu aviso e você põe mais, para meu coração não queimar.

 A moça obedeceu direitinho a mãe. Pôs a mãe de cabeça para baixo, e 
esta ficou sendo uma panela de barro. A moça lavou-a bem pelo gargalo, 
sabendo que era a xoxota da mãe. Buscou lenha, acendeu o fogo e pôs a 
mãe-pote para cozinhar com chicha. Cada vez que a sopa fervia, punha 
mais água, tinha medo de esquentar demais o corpo da mãe, de queimar 
seu coração. E aí foi sendoY toda vez que a chicha estava bem cozidinha, 
já no ponto tirava do fogo e botava no jirau para esfriar. 
 Esvaziava a panela, aguava bem aguada e a mãe virava gente de novo, 
igualzinha a quem fora.
-Ai, filhinha, sou uma mulher cansada de tanto ferver água no fogo! 
 Sentava e coava a chicha para a filha. 
O marido da moça, genro da mãe-barro, adorava a nova chicha, achava 
gostosa demais. Pedia sempre, e, quando saía para a roça, mãe e filha 
repetiam a receita de virar barro e cozinhar. 
- Você quer fazer chicha outra vez, minha filha? Oferecia a mãe.- Vire-me 
de cabeça para baixo para eu ser de barro, lave para eu ser o pote de sua 
comida, cozinhe com bastante água! 

 Acontece que o marido da moça tinha um xodó, uma namorada. Espiou 
escondida, mãe e filha e ficou sabendo como as duas faziam a chicha mais
gostosa da aldeia. Despeitada, foi fazer intriga. Correu para roça atrás do 
namorado, o genro da mãe-de-barro:
- Você gosta mais da chicha da tua mulher que da minha, mas ela cozinha a 
sua comida dentro da periquita da tua sogra! 
 O moço ficou em dúvida: como podia ser? 
- Você não acredita, vá ver! Não tem nojo de comer o que sai da xoxota, da 
periquita de sua sogra? 
O rapaz ficou desconfiado, matutando. Acabou por acreditar na versão da 
namorada, ficou furioso. Correu para maloca e esbravejou com a mulher, 
acusando-a de lhe dar uma comida vergonhosa: 
- Eu pensando que sua chicha era gostosa, feita num pote limpinho, bem 
lavado, e você cozinhando dentro da periquita da tua própria mãe! Como 
pude comer uma sujeira dessas!
Deu um chute na panela-sogra, posta a cozinhar no fogo, com chicha até a 
borda. O pote quebrou-se em uma porção de pedacinhos, pobre da sogra. 
A moça juntava os cacos, aos prantos. Tentava colar, refazer a mãe. Esta 
gemia de dor:
- Minha filha, não posso mais morar aqui. Teu marido me esmigalhou 
lembrar a ofensa dói tanto quanto o meu corpo machucado. Quero ir 
embora, morar onde há barro, para continuar a fazer potes para você. 
A mãe-de-barro, dizem, foi morar no igarapé. Virara barro mesmo, e do 
barro fazia bacias, potes, panelas, todos os utensílios para comida.
A mulherada da aldeia descobriu e foi tirar o barro mais bonito para fazerem 
elas próprias a sua cerâmica. Tiraram, tiraram barro, mas esqueceram da 
moça, da filha da mãe-de-barro.
A moça estava grávida, bem barriguda. Vivia chorando, com saudade e com 
pena da mãe. 
- Vocês estão sovinando barro, não me dão nem um pouquinho - queixou-se 
a filha- mas o barro é minha mãe. Vou ter panelas bem mais bonitas que a de 
vocês.
As outras foram-se, a moça ficou chorando solitária, horas a fio. A mãe veio, 
apareceu em forma de gente. Consolou-a, dizendo que o barro que as 
outras tinham era a cinza do seu fogão, que para filha daria a mais linda 
louça do mundo. E que as outras iam ver, pedir, com inveja, mas que ela 
não devia dar a ninguém.
A mãe voltou à forma do barro, a moça entrou no lamaçal, tirando panelas 
belíssimas já prontinhas, de todas as formas e tamanhos. Pôs todas no 
marico, despediu-se da mãe, que novamente lhe recomendou que não 
desse a ninguém, e tomou o caminho de volta a maloca. Antes da aldeia, 
escondeu os presentes de barro no mato. 
Na maloca, as mulheres lhe perguntavam onde fora, mas ela chorava. 
Sabia que depois de lhe dar tanta cerâmica, a mãe iria para bem longe, não 
se veriam mais. Como barro, só restava a cinza do fogão, era essa que as 
mulheres iriam usar para fabricar as próprias panelas. Quanto a ela, aos 
poucos vinha trazendo do mato os potes magníficos, verdadeiras obras de 
arte, que as outras invejavam e cobiçavam."