"A medicina popular é um sistema de cura utilizado pelo povo para o tratamento de seus diversos males. A sua prática é baseada no conhecimento tradicional, transmitindo de geração em geração e no uso de diversos recursos como: remédios caseiros, dietas alimentares, banhos, benzimentos, orações, aconselhamentos, aplicação de argila, entre outros.
4º Encontro de Parteiras, Benzedeiras e Raizeiras do Cerrado
Esta prática é exercida no cuidado com a família, principalmente pelas mulheres e, em forma de atendimentos de saúde nas comunidades, por diversas categorias de conhecedores tradicionais, ou por organizações comunitárias, como grupos de mulheres, associações de agricultores familiares, pastorais da saúde e da criança, entre outros.
O atendimento de saúde realizado por organizações comunitárias normalmente é realizado em espaços com uma infra-estrutura própria onde são preparados remédios caseiros e realizados atendimento à população de periferias urbanas e comunidades locais.
Os remédios caseiros são preparações que utilizam plantas medicinais e/ou substâncias derivadas de animais como banha de porco, sebo de carneiro, entre outros, e insumos, como: cachaça, óleo, vinho e rapadura. A sua denominação faz referência à tradição, por terem sido desenvolvidos originalmente em casa, utilizando os mesmos recursos de uma cozinha e técnicas semelhantes à preparação de alimentos.
Estes locais de preparação dos remédios caseiros são denominados coletivamente, pelos grupos comunitários que participam da Articulação Pacari, como farmácia ou farmacinha comunitária.
A farmacinha comunitária de plantas medicinais possui espaço próprio, aberto ao público, em local específico na comunidade. A estrutura utilizada é simples e, geralmente adaptada: um ou dois cômodos e um banheiro, além de uma horta de plantas medicinais.
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Atendimento de saúde em farmacinha comunitária |
As farmacinhas comunitárias produzem em média 14 formas de remédios caseiros: garrafada, tintura, xarope, vinagre medicinal, pomada, creme, sabonete, pílula, bala medicinal ou pastilha, doce ou geléia medicinal, óleo medicado, pó, chá (planta seca), e multimistura. Dessas 14 formas, são produzidos, em média 40 tipos diferentes de remédios, com o uso de cerca de 70 espécies de plantas medicinais. Aproximadamente, 40% das plantas utilizadas são nativas do bioma Cerrado.
O funcionamento das farmacinhas se faz principalmente por mulheres, que formam grupos, na maioria das vezes, com o mínimo de 03 e no máximo de 06 participantes.
O trabalho dos grupos comunitários é conhecido pela eficácia de seus tratamentos e exercício de uma prática de saúde confiável e solidária. Uma das principais características desse trabalho é o acesso das pessoas aos remédios caseiros, que são vendidos a baixo custo ou doados a quem não pode pagar. A venda de remédios caseiros é o que sustenta o trabalho.
Apesar da abrangência e importância do trabalho realizado, os grupos que trabalham nas farmacinhas comunitárias expressam muita preocupação em prestar um serviço informal de saúde à comunidade, sem o reconhecimento por políticas públicas, e sem atender às exigências da Vigilância Sanitária.
A estratégia identificada pela Articulação Pacari para que os grupos comunitários começassem a superar esta insegurança, foi a de influenciar a formulação de políticas públicas e fortalecer a ação desses grupos através de capacitações em cursos de boas práticas populares de uso e manejo de plantas medicinais do Cerrado (...)"
Livro “Farmacopéia Popular do Cerrado”
Livro Farmacopéia Popular do Cerrado
Esta publicação é resultado de uma pesquisa popular sobre plantas medicinais do Cerrado, com a autoria de 262 raizeiras e raizeiros do Cerrado e representantes de farmacinhas comunitárias.
A Farmacopéia Popular do Cerrado pretende ser precursora à elaboração de farmacopéias populares nos diferentes biomas brasileiros, vislumbrando a elaboração da Farmacopéia Popular Brasileira, como um instrumento político para o reconhecimento social da medicina tradicional praticada por comunidades locais e povos indígenas.
O livro contém conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade, e o acesso a esses conhecimentos para fins de pesquisa científica, bioprospecção e desenvolvimento tecnológico deve estar de acordo com a Medida Provisória Nº 2.186-16 de 23 de agosto de 2001.